Nazar

Com “Guerilla”, a sua estonteante estreia em 2020, Nazar criou uma linguagem muito própria de resistência aninhada numa guerrilha sonora que se inspirava no arquétipo do kuduro, deixando feridas históricas expostas, com ruído e uma electrónica sobredotada. Em “Demilitarize” — editado não casualmente, diríamos, no dia 25 de abril deste ano, na Hyperdub —, o produtor angolano aborda o silêncio (ou o que sobra dele), os instantes depois da revolta — exterior e interior. Marcado por uma doença grave e um amor nascente, este segundo álbum de Nazar é um olhar profundo das tensões entre fragilidade e resiliência. A cadência do kuduro persiste, mas agora está diluída por electrónica futurista sublime, entre névoas de voz e texturas crepusculares, num mantra espectral que paira entre o lamento e a rendição.