Nuno Fonseca

À escuta de perturbações temporais

Entrada gratuita, limitado à capacidade da sala

25.10 — Sábado

15:00

Museu Nogueira da Silva

Palestra

Nuno Fonseca

A música utiliza como matéria-prima o som, o “som em si mesmo”. Atribui-lhe forma, pulsação e regras, de modo a ocupar um determinado período temporal. Mas é no som que reside a essência da música, a sua fonte primeva, pelo que, sobretudo a partir do séc. XX, novas formas artísticas foram emergindo, tomando o som (a perceção auditiva e a experiência sonora) como ponto de partida e de chegada. É uma espécie de mudança ontológica: em vez de tratar o som como simples veículo da linguagem ou da música tonal tradicional, passa-se a valorizá-lo enquanto fenómeno autónomo, com existência própria, textura, materialidade e presença no espaço e no tempo.
A ontologia do som parte do princípio de que escutar é mais do que ouvir — é uma forma de estar no mundo, uma forma sensível de perceção que não separa sujeito e objeto, mas os mistura na mesma experiência estética, liberta das funções narrativas, representativas ou musicais convencionais. Neste contexto, emerge uma nova estética da atenção, onde o som é tratado como acontecimento e a escuta como prática crítica. Este tipo de arte sonora contemporânea convida-nos não só a ouvir, mas a pensar com os ouvidos — a redescobrir o mundo através da sua vibração mais íntima.

Nuno Fonseca é investigador associado do Instituto de Filosofia da Nova (Ifilnova), onde coordenou, entre 2019 e 2025, o grupo de investigação em Estética e Filosofia da Arte, e do Centro de Estudos em Música (CESEM), onde é membro do grupo de investigação em Música Contemporânea. A sua investigação centra-se nos conceitos e valores estéticos, em particular no contexto da experiência urbana quotidiana, mas também nos aspetos ontológicos, epistemológicos e culturais da experiência sonora, nomeadamente a propósito do que se tem vindo a chamar “artes sonoras”. Desde os anos 90, tem estado ligado a experiências com o meio sonoro, designadamente através da realização de programas radiofónicos na RUC e, mais recentemente, na Antena 2 (Cóclea – O Labirinto da Escuta, 2022). Tem também feito incursões na sonoplastia de espetáculos de teatro e performance.